Qual o melhor cheiro do mundo? Há gente dedicada, gastrônomos, curiosos, gulosos... e até meros esnobes que correm o mundo atrás dele. Gente disposta a encontrar cogumelos únicos, trufas de aromas castanhosos, gazosos, defumados ímpares, produtos disponíveis apenas em determinadas paisagens.
Correr mundo é bom. É bom sobretudo para saber que o melhor sabor do mundo está em casa. Bife de panela, por exemplo. É aroma salivante capaz de trazer de volta a infância. Não tem cheiro melhor.
Era o perfume invadindo a casa, o aroma da carne amolecendo no molho, anunciando a todo mundo, mais tarde, o lugar à mesa. Era cheiro concreto, de família sólida, educação segura, afeto materno, saberes domésticos, histórias na hora de dormir, brincadeira de rua antes da refeição, de proteção contra o mundo. Era aroma de eternidade.
Tem luxo mais concreto do que almoço na casa da avó? Quem não teve avó não teve infância. Principalmente se essa avó teve quintal com árvores, pé de jambo, carambola, goiaba, galinhas e gatos entre histórias, reais e inventadas, que sempre acabavam numa fatia de bolo recém-saído, cheiroso como só ele, do forno.
Feijão de avó é uma história à parte. O da minha, que me perdoem a falsa modéstia e ataque de exibicionismo doméstico, era inigualável. Outro dia, na rua, foi irresistível, inadiável mesmo. Foi preciso parar diante do portão, muro baixo como o da própria casa da avó, para apurar aquele aroma: uma mistura do cheiro marrom do feijão em profusão com toucinho, alho, cebola e louro. Louro é erva de força. Basta uma ou duas folhas e o aroma contamina o guisado, invade a casa, foge para calçada e deixa salivando quem passa. O louro, afinal, está em cartaz desde os romanos.
Era coisa de liturgia: de tomar um caldinho na xícara, louça simples, ordinária, antes de poder encher o prato com feijão, aparar com farinha e, garfada após garfada, garantir a sobremesa. Tem cheiros que vão e não voltam. Fatias-paridas? Quem lembra?
O pão velho, embebecido em ovo bem batido, frito generosamente em óleo, e depois coberto com açúcar e canela. Mais tarde, aprendemos que era herança portuguesa, coisa de servir no Natal. Mas, para uma geração que nunca soube o que era hambúrguer no drive-thru, fatia-parida era apenas mais um elemento que as avós usavam para mostrar com quantas guloseimas se fazia um domingo.Fonte - JC online.
2 Diga uma coisinha!:
hmmm saudade do cheirinho de milho assado! ^^
...seu olfato é sua memória...Bjs
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