O jornal O Estado de S. Paulo do último dia dois de abril de 2011, publicou uma notícia impressionante: os técnicos que lutam em Fukushima para controlar o vazamento nos reatores da usina nuclear sabem que morrerão dentro em breve. Mesmo assim, continuam o trabalho.
Eis um trecho da entrevista com a mãe de um daqueles homens:
“O meu filho e seus colegas têm discutido sobre isto e comprometeram-se a trabalhar, ainda que isso signifique a morte. Eles concluíram que é inevitável que muitos morram nas próximas semanas. Eles sabem que é impossível não terem sido expostos a doses letais de radiação”.
Embora o grupo esteja sendo conhecido como os “50 de Fukushima”, são cerca de 300 pessoas, pois trabalham por turno, em regime de revezamento. A opinião pública japonesa já os considera heróis, chamando-os de “Samurais Atômicos”.
Mesmo sendo altamente considerados, de fato, eles estão fadados a morrer. O quê os leva a aceitar com tanta bravura a morte iminente?
Podemos ponderar que todos nós vamos morrer, mais cedo ou mais tarde. Nem sempre gostamos quando tal pensamento nos vem à mente, porém, faz parte da condição humana. Aliás, diz o ditado popular que a morte é única coisa certa na vida.
A atitude dos “50 de Fukushima”, contudo, não advém de mera resignação diante do inevitável. Eles certamente têm consciência de estar prestando um serviço à humanidade, fazendo o possível para evitar uma catástrofe nuclear. Mesmo tendo que, com isso, pagar o preço da própria vida.
Esse altruísmo nos lembra que o ser humano é chamado a ultrapassar-se, a romper os limites impostos pelos condicionamentos que cerceiam sua frágil existência. É vocacionado a comprometer-se para além de seus interesses pessoais e negócios particulares.
Impossível não pensar na trajetória de Jesus Cristo, cujo mistério pascal vamos reviver dentro de alguns dias, na Semana Santa. A minha vida, diz Jesus no evangelho de João, ninguém a tira, sou eu quem a dou. “Para que todos tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo.10,10).
Em tempos de individualismo exacerbado, o testemunho desses técnicos, bombeiros e soldados anônimos vem sacudir a nossa mediocridade. A luta por um outro mundo possível ganha um aporte de esperança. Somos capazes de nos entregar a um ideal maior do que nós mesmos, a nos dedicar a causas que beneficiam a humanidade e o planeta.
Aos jovens que não vislumbram um horizonte mais amplo, uma utopia em que valha a pena apostar a vida, permita Deus lhes chegue a mensagem silenciosa dos “50 de Fukushima”.
1 Diga uma coisinha!:
O que mais falar a não ser se calar frente a coragem destes seres de luz, que se doam em nome dos outros.
Seríamos nós capazes desta atitude? Quanto mais me envolvo com a cultura japonesa, mais me impressiono positivamente.
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